03/08/2023 – 13:09
Vexame. Essa é a palavra que descreve a participação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo Feminina de 2023. Com um desempenho para lá de duvidoso, a equipe de Pia Sundhage não conseguiu encaixar uma boa sequência após a vitória de 4 a 0 sobre o Panamá e se despediu da competição nesta quarta-feira (02), após um amargo empate sem gols contra a limitada Jamaica.
A eliminação do Brasil ainda na fase de grupos escancarou os inúmeros problemas da seleção e o péssimo trabalho de Pia à frente da equipe. A sueca, que está no comando da amarelinha desde 2019, não só fez um ciclo pré-Copa decepcionante, como também atrapalhou a evolução do time.
Temendo uma precoce eliminação na Copa do Mundo, como acabou ocorrendo, Pia lançou sua última esperança nos ombros daquela que é conhecida como a rainha do futebol: Marta. A capitã da seleção, que nitidamente já não é a mesma jogadora de outrora, foi escalada como titular diante da Jamaica, mas não conseguiu evitar a eliminação vexatória da seleção.
Em sua sexta e última Copa do Mundo disputada, Marta, que já foi eleita a melhor jogadora do mundo em seis ocasiões, se despediu dos Mundiais com a sensação de que faltou algo. Maior artilheira do torneio, com 17 gols marcados, a camisa 10 tem como melhor resultado um segundo lugar em 2007, após perder o título para a Alemanha.

Naquela ocasião, com um Brasil finalista e uma Marta melhor do mundo, vislumbrou-se dias mais felizes para a Seleção Brasileira. Mesmo com a esperança restabelecida, a camisa 10 seguiu empilhando eliminações dolorosas nas Copas do Mundo e se despediu do torneio sem ter conquistado o título uma única vez.
Apesar dos reveses nas Copas do Mundo, é inegável que Marta deixa seu legado imortal no futebol feminino de seleções. Maior artilheira na história dos mundiais entre homens e mulheres, a jogadora inspirou diversas meninas, que hoje dividem os vestiários da Seleção Brasileira com a camisa 10, e mostrou, ao lado de nomes tradicionais como Formiga e Cristiane, que a modalidade só tende a crescer.
História de Marta
Hoje com 37 anos, a eterna rainha revolucionou o esporte no Brasil e no mundo. Nascida no município de Dois Riachos, em Alagoas, a atleta teve uma infância humilde no interior do Estado e cresceu sem a presença do pai. Filha de Tereza da Silva, a jogadora foi criada com os três irmãos, Ângela, José e Valdir, e despontou para o futebol aos 14 anos, após ser aprovada em uma peneira do Vasco da Gama, equipe do Rio de Janeiro.

Depois de deixar o sertão de Dois Riachos para trás, Marta se firmou no Vasco mesmo com a falta de investimento na modalidade feminina e, posteriormente, despontou para o cenário internacional do futebol. Com 16 anos completados, a camisa 10 passou a defender as cores da Seleção Brasileira no sub-19 e no profissional, evidenciando ainda mais o seu talento e projetando sua transferência imediata para o futebol sueco.
Nova e ainda franzina, Marta desembarcou na Suécia como uma promessa que, anos depois, se tornou uma grande realidade. No futebol europeu, a rainha garantiu o prêmio de melhor do mundo em cinco ocasiões, todos eles conquistados de forma consecutiva, entre os anos de 2006 e 2010, além de diversos títulos coletivos.

Após uma passagem de sucesso absoluto pela Europa e de garantir o título de rainha do futebol, a alagoana mudou-se para os Estados Unidos, onde segue empilhando feitos enormes à carreira e levantou sua sexta bola de ouro, em 2018, defendendo as cores do Orlando Pride, seu atual time.
Mesmo com a consolidação de Marta no exterior, sempre faltou uma passagem, ainda que simbólica, da jogadora por alguma equipe tradicional do Brasil. Em 2009 e no ano seguinte, a atacante tratou de assegurar que sua carreira tivesse um capítulo nacional e atuou por poucos meses pelo Santos, mas o tempo foi suficiente para que a camisa 10 conquistasse a Copa Libertadores e a Copa do Brasil pelo clube da Baixada Santista.

É fato que boa parte das lembranças dos brasileiros são da alagoana jogando no exterior. Mesmo com a curta passagem pelo Santos, a brasileira construiu a maior parte de sua carreira nos clubes estrangeiros, mas isso só aumentou o legado da jogadora. Marta não só elevou o nome do Brasil frente aos países estrangeiros, como também alavancou a nossa cultura futebolística e inspirou outras gerações, que acabaram ingressando no futebol após a influência da atacante.
Legado além dos gramados
Se é óbvio a influência de Marta na nova geração do futebol, reforçando o seu legado nacional e internacional, é ainda mais claro como a jogadora foi importante para a evolução de diversas meninas, fora do âmbito esportivo, e para o crescimento de outras profissionais mulheres, que alcançaram diferentes áreas apenas se inspirando na jogadora.
Marta, além de histórica e necessária, mostrou, para garotas e mulheres, que tudo é possível. A própria jogadora reconhece seu papel no crescimento do esporte e também fora dele. Em entrevista coletiva nesta Copa do Mundo, a rainha não se escondeu e reforçou seu tamanho dentro da sociedade feminina.
“Sabe o que é legal? É que quando eu comecei a jogar, eu não tinha ídolo no futebol feminino. Vocês [imprensa] não mostravam o futebol feminino. Como eu ia entender que eu poderia chegar à seleção e virar uma referência? Hoje a gente sai na rua, as pessoas param, os pais falam: ‘A minha filha te adora, ela quer ser igual a você’”, disse a atleta.
“Há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia a Marta, era minha primeira Copa. Vinte anos depois, a gente virou referência para muitas mulheres do mundo inteiro, não só no futebol, no jornalismo também. A gente vê muitas mulheres no jornalismo, que não víamos antigamente. Então a gente acabou abrindo portas para a igualdade”, acrescentou a atacante.

As falas da jogadora escancaram aquilo que muitos torcedores e fãs indicam há algum tempo: a importância e o legado futuro deixado por Marta vai além de qualquer título. É claro que terminar uma passagem de anos pela seleção com um troféu de Copa do Mundo seria uma conquista imensurável, mas a atacante já carrega na bagagem a reverência de toda uma geração.
Herança. Referência. Legado. O vexame na Copa, citado no início do texto, em nada reflete na histórica carreira construída por Marta. Dona de duas medalhas de prata em Olimpíadas, a nossa eterna rainha já alcançou o Olimpo e assegurou sua permanência entre as grandes da história.
Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias