O Ensaio de Cultivares em Rede (ECR) da soja acusou os efeitos da severa estiagem que atingiu o Rio Grande do Sul na safra 2022-2023. Executado pela Fundação Pró-Sementes e Sistema Farsul e patrocinado por Bayer e Senar-RS, o projeto foi aplicado em 11 municípios gaúchos, onde três campos experimentais acabaram descartados pela falta de chuva. O ECR implantou áreas com 40 variedades de grupos de maturação de 5.0 a 6.5 e registrou a máxima produtividade em Vacaria, onde um cultivar de ciclo precoce produziu 108 sacas por hectare. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, em coletiva de imprensa.
“Infelizmente, tivemos que condenar três campos em função da estiagem. O estabelecimento foi muito ruim e não se conseguiu um experimento uniforme para apresentar dados dos ensaios realizados em Pelotas, Cachoeira do Sul e Bagé”, disse a gerente de pesquisa da Fundação Pró-Semetes, Kassiana Kehl. A ausência de chuva e uniformidade foram fatais. “Em Cachoeira do Sul, durante a fase de florescimento e enchimento de grão, precisaríamos de 7mm por dia. Seriam 65 dias entre floração e maturação, necessitando de 450 mm, mas isso não foi o total nem durante todo o ciclo da cultura”, avaliou.
Como resultado, a amplitude das produtividades regionais variou de 17 sacas por hectare, em Cachoeira do Sul, a 77 sacas, em Vacaria. Conforme Kassiana, o Estado tem potencial para colher mais de 100 sacas por hectare. “Mas tem que ter tudo alinhado para alcançar esse máximo teto produtivo. A escolha da cultivar demonstra que podemos estar chegando a até 30 sacas de perda ou ganho”, avaliou.
Jipe ou Ferrari
O superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, fez uma analogia comparando cada cultivar a um modelo e marca de carros e salientou que a diferença entre um Jipe e uma Ferrari depende das condições do terreno. “Se pensássemos em termos de automóveis, 25% das estradas do nosso Estado estavam intransitáveis, não há veículo que as cruze, para demonstrar a gravidade da seca”, afirmou. “Testamos 40 tipos de veículos, e nenhum deles cruzou a estrada satisfatoriamente”, disse Condorelli. O superintendente afirmou que, em 15 edições do ECR, nunca as perdas teriam sido tão grandes. “As melhores variedades de soja produziam acima de 100 sacos em outros anos, e este ano nos damos satisfeitos com os campeões estarem com 60, 70 sacos”, disse.
O vice-presidente da Farsul, Elmar Konrad, analisou os resultados do ponto de vista do produtor, que precisa ser resiliente e estar sempre preparado, inclusive emocionalmente, para suportar as perdas e dificuldades de mercado. “Tivemos custos elevados na hora de contratação dos insumos em 42% a maior do que no ano anterior, e na hora de vender os preços estão no mesmo patamar”, alertou.
As áreas dos estudos foram agrupadas conforme o zoneamento agrícola da soja. O primeiro grupo teve 31 cultivares (GM 5.0 a 6.1), e o segundo, 9 variedades (GM 6.2 a 6.5). Foram mais de 10 marcas comerciais participantes. O estudo foi desenvolvido em três microrregiões do Estado, abrangendo os municípios de Pelotas, Bagé, Cachoeira do Sul, Cacequi, São Gabriel, São Luiz Gonzaga, Júlio de Castilhos, Santo Augusto, Passo Fundo, Lagoa Vermelha e Vacaria, com duas épocas de semeadura. Nesta safra, a produtividade média chegou a 36,9 sacas por hectare, conforme a Conab. O resultado superou o de 2022 (23,9), mas ainda está longe da média de 57,2 da safra 20/21.