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Pus para fora! – Agora MT

Imagem: AGORA com Vanzeli Pus para fora!Mais uma vez, nas quartas-de-final. A seleção brasileira foi desclassificada da Copa do Catar ao perder, nos pênaltis, para os croatas. No tempo normal, a partida terminou em 0 a 0, forçando sua prorrogação. Já nos acréscimos do primeiro tempo da prorrogação, Neymar marcou um golaço, invadindo a área da Croácia com a bola dominada, tirando o goleiro e marcando com o gol vazio. Faltando 4 minutos para terminar a partida, aos 11 do segundo tempo da prorrogação, Petkovic empatou a partida. Nos penais, Rodrygo e Marquinhos desperdiçaram suas cobranças e a Croácia está na semifinal do torneio.

Já vivi esse drama algumas vezes. Toda vez que chegamos às quartas-de-final, como um filme já visto, vem-me à memória a campanha da Seleção na primeira Copa que assisti de verdade, a de 1982, na Espanha. Naquele mundial, tínhamos o melhor time. Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo e Zico; Éder e Serginho Chulapa. Acredite, não precisei pesquisar no Google para mencionar o esquadrão brasileiro daquele Mundial.

Eu contava com 8 anos, estava montando meu primeiro álbum, ficava em pé, ao lado de toda família, para a execução do hino nacional e vibrava como nunca. Havia magia no ar. Escola fechada, comércio fechado. Só o coração aberto e a ânsia de gritar goooool! Na primeira partida, começamos perdendo para a União Soviética. O primeiro tempo terminou com 1 a 0 para eles. Na segunda etapa, Paulo Izidoro entrou, não me lembro em lugar de quem, e o jogo mudou. Sócrates marcou o primeiro gol brasileiro na Copa, um chute de fora da área no ângulo do gol de Dasayev, goleiro soviético, o melhor daquele mundial, na minha opinião. Depois, Éder marcou o dele, também de fora da área. A bola atingiu uma velocidade incrível e Dasayev nem se mexeu. 2 a 1 para o Brasil.

Ainda na primeira fase, enfrentamos a Escócia e a Nova Zelândia: 4 a 1 e 4 a 0, respectivamente. Na segunda fase da competição, eram formados 4 grupos com 3 equipes, um triangular. É que, à época, apenas 24 equipes participavam da Copa, distribuídas, na primeira fase, em 6 grupos de 4 equipes cada. Passavam para a fase seguinte os dois primeiros de cada grupo e os 4 melhores terceiros colocados. No triangular do Brasil, caíram Argentina e Itália. Batemos os Hermanos por 3 a 1 e, como a Itália os venceu por 2 a 1, bastava-nos o empate contra a Azzurra para avançarmos para as semifinais. Perdemos o jogo, porém. No que ficou conhecido como “o desastre de Sarriá”, nome do estádio em que a partida foi disputada, os italianos nos venceram por 3 a 2, com os 3 gols marcados por Paolo Rossi, nosso carrasco.

Era minha primeira Copa, e que sentimento amargo me veio ao peito. Indescritível o que senti naquele dia. Era um misto de decepção e inacreditável surpresa. Impotência, raiva e desgosto se somaram a elas. Eu simplesmente não entendia o que tinha acontecido. Um torpor inesquecível se assenhorou de mim, e eu chorei amarga e longamente naquela tarde fria de 5 de julho. Lembro-me da roupa que vestia, na companhia de quem estava, dos abraços que recebi de meu pai, que também chorou.

E todas as vezes que a Seleção é desclassificada, volto no tempo e experimento todo aquele dissabor novamente. Ficamos nas quartas também em 1986, 2006, 2010 e 2018. Ganhamos os mundiais de 1994 e 2002, chegamos à final em 1998 e tropeçamos nas semifinais em 2014. Talvez a derrota para França em 98 se equipare ao que senti em 1982. Com a desclassificação da última sexta-feira, passei mal o final de semana inteiro. Mas a vida continua.

Tinha tanta coisa importante sobre o que escrever hoje, querido leitor, mas não consegui. Lamento. Esse texto funciona como um extravaso. Hoje, você foi meu terapeuta. Botei para fora o que estava sentindo e, assim, consigo lidar um pouco melhor com isso tudo. Obrigado por me ouvir; ou melhor, por me ler. 2026 é logo ali!

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